terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Destacáveis

Uma coisa que sempre digo e que me parece sempre absolutamente incompreendida é que destacáveis são uma coisa fundamental a qualquer moto, conforme a necessidade do usuário.

Este vídeo curtinho mostra bem o que quero dizer. Pois é óbvio que sissy-bar (ou nada) é melhor, esteticamente, que o baú (realmente não tem jeito de isso ficar bonito, exceto se planejado para tal, como nas tourings - e mesmo assim...).

Mas a questão é: não é irremediável como uma cara feia. É apenas uma roupa horrorosa de trabalho que a gente troca rapidinho.



sábado, 28 de novembro de 2020

Lady Day em uniforme de trabalho


Meu amigos já estão tirando sarro porque a coisa fica feia. É feia, amigos, aquiesço. Mas olha, amigos, eu vi suas curtidas naquela rat bike horrorosa, vi suas curtidas naquelas customizações de gosto para lá de questionável... então menos, amigos, bem menos...

Ademais, o baú (em rack destacável) não é uma cara feia (o que é definitivo) nem uma barriga gorda (que exige um longo regime). É um uniforme de trabalho feio que se troca em cinco segundos. Porque o objetivo primeiro é o uso diário ao trabalho.

A propósito, eu detesto mochila nas costas. Fico incomodado demais. Aí carregava uma aranha para grudar a mochila no sissybar. Só que isso, em determinadas paradas, deixa a mochila vulnerável (ou a gente perde a paciência tirando e colocando arara). Mochila não, pois. Para colocar alforges destacáveis é preciso realocar setas. Eu acho as setas realocadas horríveis, e isso é um negócio definitivo. Alforges destacáveis não, pois. Alforges fixos nem pensar, muito menos aqueles destacáveis que precisam de afastadores fixos. Há algumas malas rígidas que poderiam servir. Mas eu acho todas feias. Feias e caras. Feio e caro não, pois. E há alguns baús mais quadrados e pequenos, como o da RK Police, que amenizariam bastante esse "visual motoboy". Mas são caros pacas. Aí não dá porque meu bolso não permite. Então fui nesse Pro Tork feinho mesmo por 75 conto. É feio, mas é barato. (E ainda penso em revestir de vinil para ficar ainda pouco menos "motoboy".)

Pensava também em viagens longas com esse treco. Mas isso eu ainda não sei. Acabou que ficou numa posição que não me dá apoio lombar (nem longe no rack de sissybar nem perto demais no rack de paralama). Isso, no fim, deixou o visual um pouco menos feio que eu esperava (eu esperava perto demais das costas no rack de paralama), mas faz o uso em viagens ser dificultado (sendo que a principal vantagem permanece a estanqueidade).

Ainda há uma solução que, caso eu decida por não usar o baú para viagens longas, pode ser interessante. Há um pequeno baú de bicicleta, baixo, fino e comprido, que, para uso só na cidade, vai diminuir em muito este "visual motoboy". Só que ele custa uns 200 conto (contra 75, lembrem-se).

Bem, agora é usar, ver qual é, e depois tomar as decisões que restam.

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Abstinência, Sons of Anarchy e um pouco mais de cultura

Sons of Anarchy: O sacrifício digno | by Matheus Yann Muniz | Medium

Por conta da pandemia e de um problema mecânico, estou sem rodar e sem muito a fazer em termos "motociclísticos". Mais por esta abstinência de moto que por qualquer outra coisa comecei a rever Sons of Anarchy.

O interessante é que passei a reparar em coisas que jamais teria reparado antes.

Por exemplo, há um episódio chamado "The Push". Foi traduzido como "A separação". Isso porque Jax força uma separação de Tara. Acontece, porém, que é a partir daí que os Sons se aproximam dos Mayans, que traficam heroína.

Bem, isso me chamaria pouca atenção se eu não curtisse "The Pusher", do Steppenwolf. Ora, "Born to be wild" é clichê e não está no seriado. "The Pusher" também não, mas esta música me informa que o "dealer" tem a erva do amor em suas mãos, enquanto o "pusher" é um monstro desalmado que só traz a morte.

Passei a ter muito respeito a tradutores, pois eles têm um trabalho bastante difícil e, mesmo que falhem aqui e ali, devem muito mais ser louvados que criticados. Mas... é óbvio que "The push" deveria ser "O tráfico".

Mais para frente há um episódio em que Juice, um "porto-riquenho do Queens", tenta se enforcar em consequência de um emaranhado de situações cuja principal razão é ele ser filho de um negro.

Então, enquanto ele, Juice, ou "Suco", se prepara para o ato, começa a tocar "Strange Fruit" (que fala sobre o estranho fruto de corpos negros pendentes de árvores no sul dos EUA) e o nome do episódio é “Fruit for the crows”.

Tudo óbvio. Mas é preciso olhos para ver. Hoje sei um pouco mais do que das outras vezes que vi. Só agora, na quarta visita à série, é que sou capaz de ver o óbvio.

E, além destas referências em alguns episódios, ver a série tendo Hamlet como pano de fundo é por demais interessante, seja no que se assemelha, seja no que se afasta.

Baita! 

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Liberdade. A verdadeira!

Estou a ler, entre outras coisas, os contos de Flannery O'Connor. Em meio a seus personagens grotescos e trágicos, encontro muito de redenção e beleza. E eu costumo escrever algo sobre minhas leituras em outro canal, o Medium.

Neste caso, do conto A vida que você salvar pode ser a sua, escrevi dois textos (Parte 1 e Parte 2). Reproduzo aqui o segundo deles, pois, embora um tanto off-topic, tem muito a ver com o motociclismo em mim.

Ademais, a pandemia nos tem deixado a todos bastante inativos. Faz-me bem movimentar um pouco este blog, mesmo que não me mate a saudade de rodar.

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Posso cá pensar em um ou dois aspectos aos quais poderíamos ser levados por este conto de O’Connor, eu dizia. E cá estou realmente a pensar em um destes aspectos.

Pois, se “é curioso como os automóveis costumam ser personagens dos contos de Flannery”, devo dizer que, neste caso, o automóvel bem poderia ser minha Harley Davidson.

É bem comum no meio motociclístico o apelo à liberdade. É um apelo comum e bastante piegas, geralmente, exceto por algumas poucas peças como a da ilustração abaixo.

Image for post

E é piegas não pelo apelo à liberdade em si, afinal, ainda que o homem não saiba bem o que ela significa, é um anseio legítimo. Mas é piegas porque, em não sabendo bem o que significa “liberdade”, o apelo é algo tão vago, etéreo, abstrato, que não significa nada realmente senão uma desculpa para falar de moto.

Bem, é lá uma boa desculpa, devo confessar. Mas passar das peças publicitárias a textos (e vídeos) do tipo “why I ride” é algo muito mais compensador. Esbocei meu próprio “por que ando de moto” nos termos que seguem:

Image for post

“Mas que tem isso com o conto?” — talvez algum leitor apressado há de perguntar. “Tudo, meu caro, tudo!” — eu prontamente responderia, acrescentando que estou a imitar a própria O’Connor a dar spoilers de mim mesmo logo ao começar a escrever.

Desde o começo do conto saltam aos olhos a cruz torta e o automóvel. O Sr. Shiftlet tem um nome que pode sugerir mudança e esta mudança bem poderia ser a de marchas. Ele sempre desejou um automóvel — foi nos dito — e olha comprido para ele desde que chegou ao terreno da Sra. Crater. E ele o terá.

Primeiro, porém, é preciso dizer o que ele diz:
Minha senhora, o homem se divide em duas partes, corpo e espírito. (…) O corpo, sabe, é como uma casa: não vai a lugar nenhum; mas o espírito é como um automóvel, está sempre em movimento, sempre… (…) Só estou dizendo é que o espírito de um homem é mais importante para ele do que qualquer outra coisa. (…)
Talvez haja aí algum resquício daquela ideia de que o corpo é uma prisão para a alma. Mas eu penso que esta dicotomia retórica não serve a isso. Serve, antes, para nos lembrar de Mateus 10:28:
Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo.
Ou de Mateus 16:26:
Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma?
Ah! É fundamental que o homem cuide de seu espírito ainda mais do que cuida de seu corpo. Num porvir ele terá ambos, mas é aquela, não este, o que determinará o estado de ambos.

Ora, o espírito foi criado para ser livre. Não para se libertar do corpo, nem para se libertar de prisões para o corpo, mas para aquela verdadeira liberdade que apenas o Filho pode conceder (Jo 8:36).

Olhar para o Ford 1928–1929 é olhar para a minha Sportster 2007. Não como um bem em si, nem mesmo como o conforto, a dádiva que é, mas para o que representa, para o que prepara no espírito, como o pretexto para o prazer da Presença.

É como um prazer que remete a um maior. Um “já, mas não ainda”. Como uma satisfação que em si é insatisfação. É como repetir com Lewis:
Se eu encontro em mim um desejo que nenhuma experiência desse mundo possa satisfazer, a explicação mais provável é que fui feito para um outro mundo.
Ou com Agostinho:
Grande és Tu, Senhor, e sumamente louvável; grande é a Sua força, a Tua sabedoria não tem limites! Ora, o homem, esta parcela da criação, quer Te louvar, este mesmo homem carregado com sua condição mortal, carregado com o testemunho do seu pecado e como o testemunho de que resistes aos soberbos. Ainda assim, quer louvar-Te o homem, esta a parcela de Tua criação! Tu próprio o incitas para que sinta prazer em louvar-Te. Fizeste-nos para Ti e inquieto está nosso coração, enquanto não repousa em Ti.
Olhar para minha Harley Davidson assim é preparar meu espírito para a verdadeira liberdade que então será completa. É uma carruagem que me prepara para outra, quando enfim enfrentarei o Jordão. Quando, qual com Elias, um redemoinho será o motor desta carruagem. Quando, qual com o Sr. Shiflet, a tempestade varrerá o que ficou para traz.

Desce, minha carruagem. Para e me deixa subir. Vem e me leva ao lar, para a verdadeira liberdade, para junto dEle. E enquanto me leva, minha carruagem, vou cantando:
Swing low, sweet chariot
Coming for to carry me home
Swing low, sweet chariot
Coming for to carry he home

I looked over Jordan and what did I see
Coming for to carry he home
A band of angels coming after me
Coming for to carry me home

Swing low, sweet chariot
Coming for to carry me home
Swing low, sweet chariot
Coming for to carry me home

If you get there before I do
Coming for to carry me home
Tell all my friends I’m coming too
Coming for to carry me home

Swing low, sweet chariot
Coming for to carry me home
Swing low, sweet chariot
Coming for to carry me home


Louvado seja Ele!

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“A vida que você salvar pode ser a sua”. Em: O’CONNOR, Flannery. Um homem bom é difícil de encontrar e outras histórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018.

segunda-feira, 9 de março de 2020

5º Carlos Barbosa Harley´s Day 2020

A programação, divulgada no perfil
do evento no facebook.
Eu já estava há muito tempo sem rodar antes de fraturar o tornozelo. Depois então... ficou difícil sair. Na verdade nem tanto por falta de oportunidade, mas por contingências quando das oportunidades: chuva torrencial, motos em elevadores... enfim, fazia tempo que eu não fazia sequer um passeio curto.

Entre 6 e 8 de março aconteceu o 5º Carlos Barbosa Harley's Day, organizado pelo Banidos do Inferno MC. Eu já desejava ter ido em anos anteriores, mas... bem, desta vez organizei as circunstâncias familiares com antecedência e não me prometi expectativa. E o dia chegou e não havia impedimento.

O dia era o sábado, 7 de março. Eu gosto de acampar nos eventos e aproveitar a estadia para tomar um gole de cerveja a mais. Mas, desde meu terceiro filho, tenho preferido não me ausentar tanto de casa.

Queria ter acordado lá pelas 7:00 para sair às 8:00. Acabou que, um tanto cansado, acordei às 8:00 e saí lá pelas 9:00. Não sem antes deixar um beijo em minha esposa e nos três pródigos e fazer uma breve prece por eles.

A viagem foi bastante tranquila, exceto pelos ridículos e inaceitáveis buracos, especialmente nos trechos entre Vila Cristina e Bom Princípio e entre São Vendelino e Carlos Barbosa. Estas estradas gaúchas são mesmo uma vergonha. Quase tiram o prazer de qualquer passeio.

Mas eu conhecia o caminho e sabia da possibilidade de buracos. Mesmo caindo em um deles, toquei o meu caminho mais concentrado nas viagens sob o capacete do que na irritação do asfalto. E eu vi motos e carros antigos indo na mesma direção. Vi acenos na direção contrária e vi ignorarem acenos também. Vi uma bela mãe segurando seu recém nascido e vi uma sofrida jovem carpindo um terreno...

E eu vi um lixeiro cumprimentando todos por quem passava, sendo quase sempre solenemente ignorado. Mesmo assim, foi com um enorme sorriso que ele me cumprimentou quando ultrapassei o veículo do seu trabalho. Acenei com a cabeça entre divertido e comovido.

Vi uns locais que me sugerem passeios sem eventos e vi estrada e vi minha moto e me vi feliz em rodar novamente.

Lady Day se ambientando entre suas muitas irmãs.

O palco do evento. Grande!
E, pareceu-me, muito bem organizado.
Rodei os cerca de 115Km e, chegando ao evento, lá pelas 11:00, vi que era algo grande e bem organizado, bem no meio da cidade, em uma praça, com um palco enorme e várias barracas com muitos cacarecos à venda e, claro, comida e bebida. 

Eu já estava com fome e, após uma primeira breve olhada em todas as barracas, preferi comer no comércio ao lado, até porque precisava carregar meu celular. O filé à parmegiana estava bom. A IPA também.

Ao voltar ao palco e às barracas, fiquei detestando o ter ido solo. Eu me sinto como um cachorro que, tendo corrido atrás do carro, ao vê-lo parar, não sabe o que fazer. Então fiz as coisas que eram óbvias para mim. 

Não irei as fotos que desejava nem fumei o charuto que levei porque não me apeteceu. E eu já achava, dado o calor e o estar sozinho, que não me demoraria muito no evento. 

O Trindade liquefeito.
Tomei dois bons goles de cerveja, IPA, uma delas bastante divertida para mim. Eu havia lido na sexta um conto de Otto Lara Resende chamado Filho do Padre. Não é que encontro no evento o próprio Trindade liquefeito! Isso é que é redenção!

Depois fui a uma das barracas e comprei umas camisetas com o tema H-D para toda a família. Já até imaginava minha esposa nos vestindo todos com elas para o culto público no dia seguinte e exigindo uma foto antes de sairmos. Dito e feito (mas não deu tempo de tirar a foto, ainda bem)!

Por fim dei uma última olhada nas motos estacionadas e já me aprontei para voltar para casa. Ao ligar para minha esposa, que esperava minha decisão do horário de volta para saber se teria tempo de ir num evento ela mesma mais à noite, ela me perguntou:

- Valeu a pena assim tão rápido?

- Sempre vale a pena pegar estrada, mesmo que seja uma distância curta como essa. - eu respondi. E acrescento agora que só não aproveitei mais do evento em si por estar sozinho. Gostei do que vi lá. É bem capaz de, num próximo ano, eu levar a família toda. 

Voltei para casa um pouco mais rápido do que fui ao evento. Viajei menos dentro do capacete, vi menos coisas além da minha própria felicidade em rodar novamente. E ainda deu tempo de passar na Edelbrau, em Nova Petrópolis, para pegar três cervejas para o churrasco de domingo.

Cheguei em casa bastante cansado, apesar do passeio tão rápido e tão curto. Talvez tenha sido um pouco do sol, talvez o cansaço acumulado da semana, talvez um pouco da idade que vem avançando rápido, talvez seja o tempo sem rodar... Não importa. É sempre um cansaço feliz!

quarta-feira, 4 de março de 2020

Eu sei, ninguém me disse! - Por Black

Resultado de imagem para motociclismo david mann
Imagem: arte de David Mann
Estava, como se dizia no que parece ser um outro tempo, surfando pela internet quando me deparei com este texto no perfil do facebook de um amigo. Li e me diverti a respeito das luvas. Li e me identifiquei quanto às ideias mirabolantes dentro do capacete.

Não deixa de ser uma espécie de Why I ride. Então talvez uma parte do que é dito só afete motociclistas. Mas acredito que a humanidade em nós seja afetada por outra parte. Uma boa parte.

Eu precisava publicar. No perfil mesmo deste nosso amigo comum entrei em contato para pedir autorização para reproduzir aqui no blog. E eu sei, ninguém me disse, que às vezes a amizade, ou no mínimo aquela necessária e quase perdida cortesia cavalheiresca, vem fácil.

Baita texto! Leia abaixo:

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Eu sei, ninguém me disse!
Por Alessandro Cesário, o Black

Já viu a chuva subir do chão, ao invés de descer do céu, na estrada? Às vezes ela faz o caminho inverso.

Eu sei que as melhores luvas no frio, descendo a serra, são adornos inúteis e que túneis e os caminhões te dão uma sobrevida.

Eu sei que quando um amigo diz pra você em viagem "Cara! Fecha a viseira.", logo em seguida vem uma pedra, feche a viseira.

Também sei que bicicletas podem ser mais perigosas que motos.

Já vi um irmão frear sem motivo nenhum por conta de uma intuição, eu bati na moto dele, mas acredito que ele me salvou.

Sei que os últimos a prometerem são os primeiros a cumprir; vi um gigante ser apavorado por um baixinho que estava quieto na dele; não tolere qualquer tipo de insulto, você estará ensinando as pessoas como te tratarem.

Eu vi que um cachorro cruzando a estrada pode fazer um estrago na vida de um homem, mas uma velhinha com uma visão ruim pode ser muito pior.

Eu sei que uma alegria muito forte pode ser externa e que pode estar indicando uma profunda tristeza.

Às vezes um longo caminho pode te entorpecer mais do que ópio, e a estrada à noite pode te causar alucinações ou apenas te mostrar o que não pode ver.

Eu sei e ninguém me disse...

Que dentro do capacete passam as ideias mais mirabolantes que podem te levar à loucura ou te livrar do suicídio.

Eu sei, e como sei, que existem pessoas no mundo insubstituíveis, mas às vezes é tarde demais; a vida aplica a prova, somente depois ela ensina.

Eu vi um cara levantar uma ideia no meio da madrugada, seguida de um sonho real que virou verdade.

Eu vi lobos correrem como cordeiros e meninos se transformarem em homens para defender seu nome, nosso nome.

Sei que Harleys não são para caras quebrados como nós, mas também vivem quebrando; acho que, no final, fomos feitos um para o outro.

Eu sei que as ruas, elas estão de olho, dizem mais do que podemos ouvir, cobram mais do que podemos pagar, não faça dívidas...

Minha velha sempre me dizia, filho de espanhol não tem sorte, agora entendo o que ela queria dizer...

Já vi nego quebrar um dedinho e vender a moto e vi outro perder a perna e adaptar uma parafernália pra continuar pilotando. Perspectivas? Fraqueza? Acredito que as pessoas são o que são.

Eu sei que em alguns pontos abertos da estrada, onde os ventos são vorazes, se estiver de Fat Boy, está fodido!

Já tive grana para mostrar quem estava ao meu lado e a perdi pra entender quem nunca esteve; confesso que me surpreendi com quem me ajudou na ladeira e jamais esquecerei.

Tem um cara que anda comigo, eu o chamo de irmão; é, podemos nos dar ao luxo de não dizer nada durante horas, ou de ficar uma cota sem nos vermos, posso ligar para ele a qualquer hora para simplesmente mandar ele tomar no c* e desligar o telefone; ele é o melhor amigo que se pode ter na vida.

Eu sei, ninguém me disse...

Imagem: cortesia do Black.
Que um RSR nunca anda sozinho.

Que respeito não se pode comprar.

Que algumas peças não são de reposição.

Que luvas não servem pra merda nenhuma.

Que um esperto sempre acaba encontrando um otário que vai destrui-lo.

Que somos o que somos.

Que liberdade tem preço, mas dessa moeda estamos lotados.

Que devemos fazer o que tem que ser feito e não parar quando cansar, mas parar quando terminar...

Eu sei, ninguém me disse....

Você já viu o dia virar noite? Você já viu uma estrela cair? Você já viu rajadas cortando o céu? Você já saiu na mão pra conquistar lugar? Você já perdeu uma briga e acabou ganhando? Você já teve alguém indo embora nos seus braços? Você já perdeu de verdade?

Eu sei, ninguém me disse...

sábado, 29 de fevereiro de 2020

Raquel, a pin-up!

Eu sempre desejei que minha esposa tirasse umas fotos de pin-up. Não daquelas de borracharia, obviamente, mas daquelas bonitas e comportadas que não deixam de ser sensuais só porque comportadas. Aliás, eu penso mesmo é que porque comportadas são ainda mais sensuais. E eu desejava pendurar uma foto dessas na Caverna.

Comentei com ela sobre isso algumas vezes, mas sempre como um "talvez algum dia"... E não é que já no fim do ano passado ela me propôs realizar um ensaio! "Claro!" - respondo eu. Eis então aqui uma parte deste ensaio, com as fotos que mais gostei. (Na verdade tem uma outra em que ela está, ainda que sempre comportada, tão sexy, mas tão sexy, que achei melhor não tornar pública. Mas não conto isso para ninguém!)

Era para eu escolher uma única dessas para um quadro na Caverna. Mas acho que vou fazer uns três quadros!

Seguem as fotos (por Sheila Tonin):



















terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

O motociclismo como sombra do Cristianismo

O cumprimento biker.

O homem é profundamente religioso. Isso mesmo quando tem a si mesmo por completamente apartado da religião. É algo estrutural. Criacional, eu diria. Vantagem evolutiva (ou desvantagem, sei lá), se assim você preferir.

Aliás, quando eu digo "criacional", eu tenho menos em mente a oposição da religião contra o naturalismo filosófico reinante na academia, embora faça óbvia referência a ela (a oposição), que o esquema criação-queda-redenção. 

Não é o caso, portanto, de discutirmos origens, o que foge completamente ao propósito deste blog, mas de constatar que o homem repete padrões religiosos não importa qual seja sua posição a respeito. E é justamente neste esquema que a repetição religiosa em toda atividade humana se revela.

Uma das coisas que mais me espanta e atrai no motociclismo é esta sombra de religiosidade que o cerca naquilo que chamamos de "irmandade", ou "fraternidade".

Notem, o Cristianismo afirma que somos todos podres. Ao nos encontrarmos na rua, embora sejamos chamados a tratar todos com civilidade, o mais provável é que sejamos causa de repulsa recíproca, e tanto mais quanto mais diferentes somos. Porém, porque estamos unidos como igreja, compartilhamos os valores de um mesmo Deus, esforçamo-nos uma comunhão que não nos é natural, mas que vem fácil, no culto e no louvor que prestamos.

Em outros termos, o Cristianismo é uma religião e o Senhor é seu Deus. A cruz é um símbolo. A igreja é um templo, os rituais e a liturgia são culto e os sacramentos são comunhão.

Notem mais uma vez, o motociclismo não afirma, mas os motociclistas sabemos que a humanidade vive em falta. É bem provável que, se nos encontrássemos em qualquer lugar, o olhar de reprovação viesse mais fácil que o de simpatia. Porém nós nos encontramos na estrada, e porque andamos de moto e compartilhamos de certo estilo de vida, fácil nos identificamos e fácil flui a conversa.

Em outros termos, o motociclismo é uma religião e a moto é um deus. A caveira é um símbolo. A estrada é um templo, as roupas e o modo de vida um ritual, um culto e o encontro uma comunhão.

É claro que a sombra, tênue e fugaz, tanto se aproxima quanto se afasta do objeto, sólido e firme, que representa. E é claro que não faço caso de ser dogmático nisso. Mas isso de fato me atrai e espanta.

E eu desejaria que os homens fossem sempre assim, fraternos, quanto a tudo. E desejaria ainda mais que sua irmandade fosse redimida como postura de homens redimidos pela filiação da paternidade comum.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

2ª Noite dos Líquidos Biblicamente Permitidos

De fato as ocasiões para uma NdLBP são raras. A última, que havia sido a primeira, faz mais de um ano (ver em 1ª NdLBP). Claro que neste meio tempo eu aproveitei a Caverna sozinho. Mas o objetivo das NdLBP é ter companhia. Na noite deste oito de janeiro houve a segunda ocasião.

Tenho conversado com o Matheus Doresbach sobre motos desde que ele me disse que desejava adquirir uma. Até que ele adquiriu uma Iron e já combinamos fazer dois passeios: um bate e volta para Torres/RS (notícias aqui em breve) e um bate e fica em Florianópolis/SC (notícias aqui em breve também).

Ele estando em férias por estes dias, porém, comentou de vir a Canela passear com esposa e filho. Então eu o convidei para dormir aqui em casa. Convite aceito, aproveitamos para fazer alguma fumaça e bebericar um single malt e um bourbon. Tudo cortesia dele, vejam só!

Eu e o Matheus (e as aranhas moradoras da Caverna) iniciando os trabalhos.
A propósito, o barracão está um caos. Com algumas obras nos fundos de casa,
o barracão fica um tanto largado. Em breve tais obras ajudarão em planos de
necessárias e desejadas melhorias para a Caverna.
Para mim foi especialmente interessante experimentar o single malt, pois eu nunca havia tomado. Até porque priorizo adquirir vinhos, que fazem mais o meu gosto. Ele nos trouxe um Glenfiddich 12 anos. De fato, é muitíssimo mais macio que os blended. E que os bourbons. Mas eu ainda prefiro os americanos. Aliás, se bebericamos o single malt, acabamos com o resto do Bulleit que ele trouxe.

Embora me pareça que ele desejasse mais cachimbar, cedeu logo ao meu desejo pelo charuto. O dele um Dona Flor e para mim um H. Upmann. Bem, teremos, espero, ocasião para o cachimbo, meu caro!

Entre goles e fumaça, ficamos papeando até cerca de três da madrugada. Papeamos sobre a vida, sobre motos, sobre teologia... Foi um tempo agradabilíssimo.

Agradeço ao Matheus a presença com sua família e também pelos regalos todos.