segunda-feira, 9 de março de 2020

5º Carlos Barbosa Harley´s Day 2020

A programação, divulgada no perfil
do evento no facebook.
Eu já estava há muito tempo sem rodar antes de fraturar o tornozelo. Depois então... ficou difícil sair. Na verdade nem tanto por falta de oportunidade, mas por contingências quando das oportunidades: chuva torrencial, motos em elevadores... enfim, fazia tempo que eu não fazia sequer um passeio curto.

Entre 6 e 8 de março aconteceu o 5º Carlos Barbosa Harley's Day, organizado pelo Banidos do Inferno MC. Eu já desejava ter ido em anos anteriores, mas... bem, desta vez organizei as circunstâncias familiares com antecedência e não me prometi expectativa. E o dia chegou e não havia impedimento.

O dia era o sábado, 7 de março. Eu gosto de acampar nos eventos e aproveitar a estadia para tomar um gole de cerveja a mais. Mas, desde meu terceiro filho, tenho preferido não me ausentar tanto de casa.

Queria ter acordado lá pelas 7:00 para sair às 8:00. Acabou que, um tanto cansado, acordei às 8:00 e saí lá pelas 9:00. Não sem antes deixar um beijo em minha esposa e nos três pródigos e fazer uma breve prece por eles.

A viagem foi bastante tranquila, exceto pelos ridículos e inaceitáveis buracos, especialmente nos trechos entre Vila Cristina e Bom Princípio e entre São Vendelino e Carlos Barbosa. Estas estradas gaúchas são mesmo uma vergonha. Quase tiram o prazer de qualquer passeio.

Mas eu conhecia o caminho e sabia da possibilidade de buracos. Mesmo caindo em um deles, toquei o meu caminho mais concentrado nas viagens sob o capacete do que na irritação do asfalto. E eu vi motos e carros antigos indo na mesma direção. Vi acenos na direção contrária e vi ignorarem acenos também. Vi uma bela mãe segurando seu recém nascido e vi uma sofrida jovem carpindo um terreno...

E eu vi um lixeiro cumprimentando todos por quem passava, sendo quase sempre solenemente ignorado. Mesmo assim, foi com um enorme sorriso que ele me cumprimentou quando ultrapassei o veículo do seu trabalho. Acenei com a cabeça entre divertido e comovido.

Vi uns locais que me sugerem passeios sem eventos e vi estrada e vi minha moto e me vi feliz em rodar novamente.

Lady Day se ambientando entre suas muitas irmãs.

O palco do evento. Grande!
E, pareceu-me, muito bem organizado.
Rodei os cerca de 115Km e, chegando ao evento, lá pelas 11:00, vi que era algo grande e bem organizado, bem no meio da cidade, em uma praça, com um palco enorme e várias barracas com muitos cacarecos à venda e, claro, comida e bebida. 

Eu já estava com fome e, após uma primeira breve olhada em todas as barracas, preferi comer no comércio ao lado, até porque precisava carregar meu celular. O filé à parmegiana estava bom. A IPA também.

Ao voltar ao palco e às barracas, fiquei detestando o ter ido solo. Eu me sinto como um cachorro que, tendo corrido atrás do carro, ao vê-lo parar, não sabe o que fazer. Então fiz as coisas que eram óbvias para mim. 

Não irei as fotos que desejava nem fumei o charuto que levei porque não me apeteceu. E eu já achava, dado o calor e o estar sozinho, que não me demoraria muito no evento. 

O Trindade liquefeito.
Tomei dois bons goles de cerveja, IPA, uma delas bastante divertida para mim. Eu havia lido na sexta um conto de Otto Lara Resende chamado Filho do Padre. Não é que encontro no evento o próprio Trindade liquefeito! Isso é que é redenção!

Depois fui a uma das barracas e comprei umas camisetas com o tema H-D para toda a família. Já até imaginava minha esposa nos vestindo todos com elas para o culto público no dia seguinte e exigindo uma foto antes de sairmos. Dito e feito (mas não deu tempo de tirar a foto, ainda bem)!

Por fim dei uma última olhada nas motos estacionadas e já me aprontei para voltar para casa. Ao ligar para minha esposa, que esperava minha decisão do horário de volta para saber se teria tempo de ir num evento ela mesma mais à noite, ela me perguntou:

- Valeu a pena assim tão rápido?

- Sempre vale a pena pegar estrada, mesmo que seja uma distância curta como essa. - eu respondi. E acrescento agora que só não aproveitei mais do evento em si por estar sozinho. Gostei do que vi lá. É bem capaz de, num próximo ano, eu levar a família toda. 

Voltei para casa um pouco mais rápido do que fui ao evento. Viajei menos dentro do capacete, vi menos coisas além da minha própria felicidade em rodar novamente. E ainda deu tempo de passar na Edelbrau, em Nova Petrópolis, para pegar três cervejas para o churrasco de domingo.

Cheguei em casa bastante cansado, apesar do passeio tão rápido e tão curto. Talvez tenha sido um pouco do sol, talvez o cansaço acumulado da semana, talvez um pouco da idade que vem avançando rápido, talvez seja o tempo sem rodar... Não importa. É sempre um cansaço feliz!

quarta-feira, 4 de março de 2020

Eu sei, ninguém me disse! - Por Black

Resultado de imagem para motociclismo david mann
Imagem: arte de David Mann
Estava, como se dizia no que parece ser um outro tempo, surfando pela internet quando me deparei com este texto no perfil do facebook de um amigo. Li e me diverti a respeito das luvas. Li e me identifiquei quanto às ideias mirabolantes dentro do capacete.

Não deixa de ser uma espécie de Why I ride. Então talvez uma parte do que é dito só afete motociclistas. Mas acredito que a humanidade em nós seja afetada por outra parte. Uma boa parte.

Eu precisava publicar. No perfil mesmo deste nosso amigo comum entrei em contato para pedir autorização para reproduzir aqui no blog. E eu sei, ninguém me disse, que às vezes a amizade, ou no mínimo aquela necessária e quase perdida cortesia cavalheiresca, vem fácil.

Baita texto! Leia abaixo:

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Eu sei, ninguém me disse!
Por Alessandro Cesário, o Black

Já viu a chuva subir do chão, ao invés de descer do céu, na estrada? Às vezes ela faz o caminho inverso.

Eu sei que as melhores luvas no frio, descendo a serra, são adornos inúteis e que túneis e os caminhões te dão uma sobrevida.

Eu sei que quando um amigo diz pra você em viagem "Cara! Fecha a viseira.", logo em seguida vem uma pedra, feche a viseira.

Também sei que bicicletas podem ser mais perigosas que motos.

Já vi um irmão frear sem motivo nenhum por conta de uma intuição, eu bati na moto dele, mas acredito que ele me salvou.

Sei que os últimos a prometerem são os primeiros a cumprir; vi um gigante ser apavorado por um baixinho que estava quieto na dele; não tolere qualquer tipo de insulto, você estará ensinando as pessoas como te tratarem.

Eu vi que um cachorro cruzando a estrada pode fazer um estrago na vida de um homem, mas uma velhinha com uma visão ruim pode ser muito pior.

Eu sei que uma alegria muito forte pode ser externa e que pode estar indicando uma profunda tristeza.

Às vezes um longo caminho pode te entorpecer mais do que ópio, e a estrada à noite pode te causar alucinações ou apenas te mostrar o que não pode ver.

Eu sei e ninguém me disse...

Que dentro do capacete passam as ideias mais mirabolantes que podem te levar à loucura ou te livrar do suicídio.

Eu sei, e como sei, que existem pessoas no mundo insubstituíveis, mas às vezes é tarde demais; a vida aplica a prova, somente depois ela ensina.

Eu vi um cara levantar uma ideia no meio da madrugada, seguida de um sonho real que virou verdade.

Eu vi lobos correrem como cordeiros e meninos se transformarem em homens para defender seu nome, nosso nome.

Sei que Harleys não são para caras quebrados como nós, mas também vivem quebrando; acho que, no final, fomos feitos um para o outro.

Eu sei que as ruas, elas estão de olho, dizem mais do que podemos ouvir, cobram mais do que podemos pagar, não faça dívidas...

Minha velha sempre me dizia, filho de espanhol não tem sorte, agora entendo o que ela queria dizer...

Já vi nego quebrar um dedinho e vender a moto e vi outro perder a perna e adaptar uma parafernália pra continuar pilotando. Perspectivas? Fraqueza? Acredito que as pessoas são o que são.

Eu sei que em alguns pontos abertos da estrada, onde os ventos são vorazes, se estiver de Fat Boy, está fodido!

Já tive grana para mostrar quem estava ao meu lado e a perdi pra entender quem nunca esteve; confesso que me surpreendi com quem me ajudou na ladeira e jamais esquecerei.

Tem um cara que anda comigo, eu o chamo de irmão; é, podemos nos dar ao luxo de não dizer nada durante horas, ou de ficar uma cota sem nos vermos, posso ligar para ele a qualquer hora para simplesmente mandar ele tomar no c* e desligar o telefone; ele é o melhor amigo que se pode ter na vida.

Eu sei, ninguém me disse...

Imagem: cortesia do Black.
Que um RSR nunca anda sozinho.

Que respeito não se pode comprar.

Que algumas peças não são de reposição.

Que luvas não servem pra merda nenhuma.

Que um esperto sempre acaba encontrando um otário que vai destrui-lo.

Que somos o que somos.

Que liberdade tem preço, mas dessa moeda estamos lotados.

Que devemos fazer o que tem que ser feito e não parar quando cansar, mas parar quando terminar...

Eu sei, ninguém me disse....

Você já viu o dia virar noite? Você já viu uma estrela cair? Você já viu rajadas cortando o céu? Você já saiu na mão pra conquistar lugar? Você já perdeu uma briga e acabou ganhando? Você já teve alguém indo embora nos seus braços? Você já perdeu de verdade?

Eu sei, ninguém me disse...