terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

O motociclismo como sombra do Cristianismo

O cumprimento biker.

O homem é profundamente religioso. Isso mesmo quando tem a si mesmo por completamente apartado da religião. É algo estrutural. Criacional, eu diria. Vantagem evolutiva (ou desvantagem, sei lá), se assim você preferir.

Aliás, quando eu digo "criacional", eu tenho menos em mente a oposição da religião contra o naturalismo filosófico reinante na academia, embora faça óbvia referência a ela (a oposição), que o esquema criação-queda-redenção. 

Não é o caso, portanto, de discutirmos origens, o que foge completamente ao propósito deste blog, mas de constatar que o homem repete padrões religiosos não importa qual seja sua posição a respeito. E é justamente neste esquema que a repetição religiosa em toda atividade humana se revela.

Uma das coisas que mais me espanta e atrai no motociclismo é esta sombra de religiosidade que o cerca naquilo que chamamos de "irmandade", ou "fraternidade".

Notem, o Cristianismo afirma que somos todos podres. Ao nos encontrarmos na rua, embora sejamos chamados a tratar todos com civilidade, o mais provável é que sejamos causa de repulsa recíproca, e tanto mais quanto mais diferentes somos. Porém, porque estamos unidos como igreja, compartilhamos os valores de um mesmo Deus, esforçamo-nos uma comunhão que não nos é natural, mas que vem fácil, no culto e no louvor que prestamos.

Em outros termos, o Cristianismo é uma religião e o Senhor é seu Deus. A cruz é um símbolo. A igreja é um templo, os rituais e a liturgia são culto e os sacramentos são comunhão.

Notem mais uma vez, o motociclismo não afirma, mas os motociclistas sabemos que a humanidade vive em falta. É bem provável que, se nos encontrássemos em qualquer lugar, o olhar de reprovação viesse mais fácil que o de simpatia. Porém nós nos encontramos na estrada, e porque andamos de moto e compartilhamos de certo estilo de vida, fácil nos identificamos e fácil flui a conversa.

Em outros termos, o motociclismo é uma religião e a moto é um deus. A caveira é um símbolo. A estrada é um templo, as roupas e o modo de vida um ritual, um culto e o encontro uma comunhão.

É claro que a sombra, tênue e fugaz, tanto se aproxima quanto se afasta do objeto, sólido e firme, que representa. E é claro que não faço caso de ser dogmático nisso. Mas isso de fato me atrai e espanta.

E eu desejaria que os homens fossem sempre assim, fraternos, quanto a tudo. E desejaria ainda mais que sua irmandade fosse redimida como postura de homens redimidos pela filiação da paternidade comum.

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